COLETOR MENSTRUAL (MENSTRUAL CUPS)
Autores:
Sergio Henrique Lopes Marques
Anna Laura Piantino Marques
A menstruação ocorrerá, aproximadamente, 400 vezes durante a vida da mulher. Trata-se de um processo fisiológico e, por que não, um dos herdados da evolução do ser humano como um animal consciente. Isso, pois a menstruação é consequência direta da escolha da mulher por não engravidar. Quando a concepção não ocorre, a mulher precisa descartar todo o preparo que havia sido feito para a gestação. Assim, a cada 28-30 dias, desce um fluxo de tecido construído dentro do útero, chamado menstruação. Esse fluxo durará de 3 a 7 dias e terá um volume variado, que pode chegar a até 80 ml.
A ocorrência desse sangramento sempre foi um estigma para a mulher. Os tabus oriundos de diversas sociedades representaram e representam uma interferência direta na relação da mulher com seu corpo, saúde e liberdade. Em tempos passados, ou a mulher estava linda, por estar fértil, ou suja, por estar menstruada. Esse processo já foi até mesmo considerado um castigo bíblico, imposto à Eva (Gen 3:16).
Devido aos estigmas da menstruação, esse é um tema pouco abordado. Nitidamente, há um silenciamento sobre o assunto em quase toda a sociedade, o que inclui as famílias e as escolas. Poucas são as informações que circulam sobre a menstruação, e mais escassas ainda são aquelas que mostram o ciclo menstrual como natural e empoderador, constituinte da identidade feminina.
A falta de informação prejudica a manutenção de uma higiene menstrual adequada. Nos dias atuais, a mulher conta com diversas opções para tal, o que a permite alcançar maior conforto íntimo e liberdade. No entanto, esses dispositivos para o período menstrual não foram criados visando o bem-estar feminino. O fato de as mulheres serem parte fundamental da mão-de-obra durante a revolução industrial, na segunda metade do século 19, contribuiu para o surgimento de “paninhos”, permitindo que elas ficassem mais tempo nas fábricas. Contudo, felizmente, o espaço e voz conquistados pela mulher na sociedade resultaram em uma ampla gama de produtos voltados para as necessidades específicas de cada mulher. Por esse motivo, conhecer essas opções é fundamental para escolher aquela que melhor lhe atende.
A esse respeito, podemos dividir os artigos de higiene menstrual em dois grupos: o primeiro deles apresenta os dispositivos descartáveis, logo, é composto pelos absorventes e tampões; já o segundo grupo é o dos coletores menstruais, dispositivos reutilizáveis. As opções descartáveis são mais familiares para a maioria das mulheres, mas o que são os coletores menstruais? Esse será o foco no nosso texto.
Pode parecer novidade, mas não é. O coletor foi idealizado na década de 1930, pela atriz e escritora Leona W. Chalmers. A matéria-prima utilizada foi a borracha. Apesar de ser uma boa ideia, não foi bem recebida pelas mulheres da época, pois o utensílio foi considerado muito pesado. Pouco depois, veio a Segunda Guerra Mundial e, com isso, uma escassez da borracha. Sem matéria-prima, a fabricação foi descontinuada.
O aparelho retornou nos anos 2000, fundamentado no conceito de sustentabilidade global. A partir do número de ciclos menstruais que uma mulher tem ao longo de sua vida fértil, estima-se que ela descarte, no total, entre 11000 a 16000 absorventes ou tampões, uma quantidade alarmante de lixo. Em acréscimo, estão as tantas outras embalagens e aplicadores, que multiplicam exponencialmente a quantia de resíduos descartados na natureza. Por isso, um artigo de higiene menstrual reutilizável mostra-se como uma solução muitos mais sustentável, como é o caso do coletor menstrual, cuja vida útil varia de 2 a 5 anos, dependendo do modelo.
Apesar de ser um objeto de quase noventa anos, os modelos atuais apresentam o mesmo design, similar a um “copinho”. Hoje em dia, os coletores são fabricados em material biodegradável, hipoalergênico e antibacteriano. Há dois tamanho no Brasil. O tamanho A é indicado para mulheres com mais de trinta anos e/ou que já foram gestantes (independentemente do tipo parto), com cerca de 4,3 cm de diâmetro e 7,2 cm altura. O tamanho B atende mulheres com menos de trinta anos e/ou que nunca estiveram grávidas, esse possui cerca de 4 cm de diâmetro e 7,2 cm de altura. A altura dos coletores é contabilizada incluindo a haste, que pode ser cortada, conforme a preferência. Outros modelos podem ser encontrados no resto do mundo. No link a seguir, podemos conhecer a grande diversidade de aparelhos: https://putacupinit.com/chart/.
O coletor menstrual é um aparelho de uso intravaginal, ou seja, deve ser inserido na cavidade da vagina. Para a sua inserção, ele deve ser “dobrado”. Já no interior da vagina, o coletor volta para sua forma original, tendo em vista que o dispositivo possui resiliência e memória que restauram seu formato inicial, não importam quantas vezes ele foi comprimido. Após inserido, o coletor pode ser mantido na vagina por até 12 horas. Ao término desse período, o coletor deve ser retirado e higienizado, antes de ser reinserido. Essa retirada é facilitada por uma estrutura na extremidade inferior do coletor.
Não há dúvidas que sua utilização tem vários pontos positivos, mas é seguro? A resposta é sim! Estudos recentes examinaram a vagina e o colo do útero durante o acompanhamento do uso do coletor e nenhum dano mecânico foi evidenciado na parede vaginal ou em relação à sustentabilidade da pelve. Há uma possibilidade remota de infecções, mas essa também está presente no uso de absorventes e tampões. De fato, um estudo no Quênia detectou menor número de casos de vaginose bacteriana – doença que produz corrimento com odor desagradável – em usuárias do coletor menstrual do que em mulheres que usavam absorventes, postulando que o material inerte do aparelho pode ajudar a manter o pH e os microorganismos que contribuem para a saúde vaginal.
Logo, seu corpo agradece e a natureza também!
Saúde, paz e nos falamos em breve. #fiquememcasa
Referências:
http://dx.doi.org/10.1016/S2468-2667(19)30126-4
http://dspace.unipampa.edu.br:8080/jspui/handle/riu/4529
https://doi.org/10.1159/000496608
http://www.sciencepublishinggroup.com/j/jgo doi: 10.11648/j.jgo.20190706.12
http://dx.doi.org/10.1016/S24682667(19)30111-2
https://doi.org/10.1007/s10096-019-03685-x
http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2016013229).
Sebert Kuhlmann A, Peters Bergquist E, Danjoint D, Wall LL. Unmet Menstrual Hygiene Needs Among Low-Income Women. Obstet Gynecol. 2019;133(2):238‐244. doi:10.1097/AOG.0000000000003060